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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Educação a orquestra do fracasso

Por: Ricardo Junior

Há muitos anos a nossa educação esta defasada, entregue as baratas, problemas? Essa palavra parece o maestro de uma orquestra  de sintomas que nosso país pode ouvir. Hoje não irei me alongar muito, tratarei especificamente e de forma simples sobre o tema "educação", se é que podemos dizer que a tal palavra existe em nosso vocábulo governamental. É notório a difícil vida de professores de quaisquer esfera educacional, seja ela municipal, estadual ou federal, esses não tem boas condições para trabalhar e poder dar aos nossos estudantes o ensino que lhe são devido. São escolas totalmente acabadas, quadros negros de tempos de outrora que mal o giz pode tocar, cadeiras totalmente destruídas, falta de materiais escolares para professores e alunos, falta de segurança, e pra completar o salario bem a quem do que o professor realmente merece, tudo isso e algumas coisas a mais fazem parte da árdua tarefa do professor brasileiro e do seu cotidiano.

É perceptível que basta querer para fazer, a copa do mundo de 2014 foi um exemplo vivo disso, foram construídos estádios de 1° mundo, mas e por que não investir nas escolas? Por que não escolas PADRÃO FIFA? Qual é o problema do país? O povo brasileiro, esse povo que se contenta com tão pouco, não sabem votar, não fiscalizam o que seus políticos fazem e deixam de fazer, não estão nem aí para a política, preferem ver novelas, se preocupar quem beija quem, ou, com a classificação do campeonato brasileiro, e o ranking do PIB do nosso país? Nossa colocação em educação onde é que ta mesmo? Ninguém sabe, ou se sabem fingem muito bem não saber, depois não reclame, afinal os efeitos sempre estiveram evidentes a olho nu.

Recentemente me deparei com o projeto do Senador Cristóvam Buarque que me chamou muito a atenção e pude vê que existe sim uma saída para salvar a nossa educação da lama, basta querer e acreditar. Não falarei do projeto do senador, deixarei que ele mesmo explique aos brasileiros a sua ideia central para com a educação do país. Vale apena assistir!

ASSISTA ABAIXO O VÍDEO:



sábado, 26 de julho de 2014

O Brasil antes da Segunda Guerra Mundial

Por: João Barone
Nas duas décadas posteriores ao final da Primeira Grande Guerra, o Mundo passou por grandes aflições que se estenderam até o começo da década de 30, quando as grandes potências econômicas tentavam se reerguer da crise de 1929, impérios tentavam manter seus domínios geopolíticos, a ideologia comunista se espalhava pelo planeta e regimes de extrema direita afloravam em resposta à expansão do comunismo. No Brasil, Getúlio Vargas subia ao poder, configurando uma das muitas ditaduras que despontavam pela América Latina. O caudilho brasileiro estava decidido a levar o país no caminho do desenvolvimento, mas encontrava grandes dificuldades em conseguir dinheiro e parceiros comerciais no cenário global. Os americanos não estavam dispostos a financiar a siderurgia no Brasil, mas incrementavam as relações comerciais.
O Brasil parecia fadado ao papel de economia agrícola, quando começou a intensificar trocas comerciais com a Alemanha nazista, que prometia investimentos no país e até mesmo a tão sonhada primeira siderúrgica nacional. No final dos anos 30, o Brasil conseguiu até mesmo comprar material bélico alemão para reequipar suas forças armadas, que necessitavam se modernizar urgentemente. A presença alemã na América do Sul aumentava, sendo que no Brasil, o número de integrantes do partido nazista chegou a ser o maior fora da Alemanha. Vargas tinha uma relação cordial com o ditador fascista italiano Benitto Mussolini e a polícia repressiva do Estado Novo - nome do regime que Vargas impôs em 1937 - fez um intercâmbio anticomunista com a famigerada Gestapo de Hitler. Os ideais nazifascistas pareciam encurralar as democracias para um beco sem saída e o ditador Vargas seguia esta cartilha ao pé da letra.
Mesmo com o começo da Segunda Guerra Mundial na Europa em setembro de 1939, o Brasil manteve-se neutro e as relações diplomáticas e comerciais seguiam com italianos e alemães, o que chegou a incomodar os americanos, mais pela ameaça da perda da hegemonia comercial do que por outra razão, pois os Estados Unidos ainda se mantinham isolados do conflito, apesar do veemente  apoio do presidente Roosevelt à Inglaterra. O bloqueio naval imposto aos nazistas pela Inglaterra e França não impediu que navios mercantes alemães continuassem ousadamente realizando suas rotas indo e vindo do Brasil, levando para o Reich importantes matérias primas de toda sorte, como minerais, algodão, couro e café.Navios de guerra ingleses vieram até o Atlântico Sul para afundar e confiscar navios mercantes inimigos, que contavam com a cobertura de naus de guerra da Marinha Alemã.

Couraçado Admiral Graf Spee, navio de guerra da Marinha da Alemanha

Não foi à toa que a primeira batalha naval da Segunda Guerra Mundial aconteceu na foz do Rio da Prata em dezembro de 1939, com a caçada e cerco ao lendário couraçado de bolso Graf Spee - que havia afundado um navio inglês na costa pernambucana em setembro - empreendida por uma flotilha inglesa. O moderno navio alemão foi avariado e buscou refúgio no Porto de Montevidéu, onde foi destruído por seu comandante para que não fosse capturado pelos ingleses. A guerra começava a chegar perto do Brasil.

Fotos: Blog do Chico Miranda
Fonte:http://seuhistory.com/

Entenda o conflito entre Israel e palestinos

Conflito entre israelenses e palestinos remonta ao início do século passado e vive atualmente um processo de intensificação


Vitor Abdala, da 

Soldado israelense em um tanque que se dirige à fronteira com a Faixa de Gaza
Soldado israelense em um tanque que se dirige à fronteira com a Faixa de Gaza
Rio de Janeiro - Nos últimos dias, o mundo tem acompanhado a intensificação do conflito entre israelenses e palestinos, na Faixa de Gaza. Até o momento, mais de 260 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas na sequência dos ataques iniciados em julho.

A nova espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e homicídio, em junho, de três jovens judeus na Cisjordânia (um ataque que Israel atribuiu ao Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza) seguido da morte de um jovem palestino queimado em Jerusalém por extremistas judeus. A partir daí, tiveram início os lançamentos de foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel.
O conflito entre israelenses e palestinos remonta ao início do século passado. Entre a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20, uma migração em massa de judeus de vários países para a Palestina provocou uma mudança na demografia local. Majoritariamente árabe, a região - que até 1917 pertencia ao Império Otomano e depois, até 1948, foi um protetorado britânico - passou a ter uma população judaica cada vez maior.
Nos primeiros anos de mandato britânico na Palestina, houve confrontos entre árabes e judeus. Começou-se então a discutir o que fazer diante daquela situação. Em 1947, pouco antes da retirada dos britânicos, a Organização das Nações Unidas (ONU) pôs em prática um plano de divisão do território em duas partes: uma para os judeus e outra para os árabes. A insatisfação em torno do mapa definido pela ONU gerou uma guerra civil entre os dois povos.
Com a saída dos britânicos, em 1948, países árabes vizinhos tentaram invadir o recém-criado Estado de Israel. Mas, ao término do conflito, os israelenses mantiveram seu território e os palestinos perderam a chance de criar seu próprio Estado, já que Israel ocupou parte do território destinado aos palestinos pela ONU, o Egito passou a controlar a Faixa de Gaza e a Jordânia ficou com a Cisjordânia.
Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF) Gisele Chagas, é uma visão simplista dizer que judeus e árabes “sempre se odiaram e sempre viverão em guerra”. Segundo ela, um dos principais pontos de discordância entre os dois povos, no início dos conflitos, era a existência de projetos nacionalistas diferentes. Os povos discordavam sobre o que fazer com uma Palestina independente: uma Palestina árabe ou uma Israel judaica?
“São dois projetos políticos distintos. São dois projetos políticos nacionais que vão disputar o mesmo território, que vão querer criar um tipo de comunidade política em que o outro projeto não está incluído”, afirma a pesquisadora.
Gaza e Cisjordânia se mantiveram sob ocupação estrangeira árabe até 1967, quando uma nova guerra, a Guerra dos Seis Dias, entre Israel e as nações vizinhas, resultou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia (incluindo a parte oriental de Jerusalém).
A partir daí, Israel assumiu uma política de colonização de Gaza e da Cisjordânia com judeus, por meio de assentamentos. Por vários anos, a ONU considerou a ocupação dos territórios palestinos ilegal e determinou que Israel retornasse às fronteiras pré-1967, o que tem sido ignorado pelo governo israelense.
“A guerra de 1967 é o núcleo da problemática mais recente. E é o núcleo dificultador da solução de dois Estados [Israel e Palestina]. Se você olhar as fronteiras de 67, Jerusalém oriental teria que pertencer aos palestinos, que a querem como capital. E esse parece que é um dos pontos menos negociáveis por parte de Israel, que tem uma população decidida a ter Jerusalém como capital”, diz o coordenador do Laboratório de Estudos Asiáticos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leonardo Valente.
Apenas em 2005, Israel decidiu retirar seus colonos e militares da Faixa de Gaza, entregando sua administração à Autoridade Nacional Palestina (ANP). Apesar disso, Israel continuou a controlar as fronteiras e o acesso marítimo a Gaza.
Na Cisjordânia, pouco mudou já que a política de assentamentos judaicos e a ocupação militar do território continuaram. Ainda hoje, grande parte desse território palestino tem sua administração civil e militar concentrada nas mãos de Israel.
Apesar da devolução de Gaza aos palestinos, o território passou a ser o principal foco de problema do conflito israelense-palestino, já que, em 2006, o Hamas, movimento fundamentalista islâmico, venceu as eleições parlamentares palestinas. Em seguida, o Hamas rompeu com o Fatah, organização política e militar palestina, tomando o controle de Gaza, enquanto seu rival político mantinha o controle sobre a Cisjordânia.
Visto como um grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e por países europeus, o Hamas sofreu uma série de sanções por parte desses países. O governo israelense ampliou a vigilância sobre Gaza, aumentando seu controle sobre as fronteiras e restringindo a circulação de produtos e pessoas entre os dois territórios. Desde então, houve uma série de confrontos abertos entre as duas partes: o governo israelense e o Hamas.
“Há uma dificuldade de Israel aceitar certos grupos palestinos, entre eles o Hamas. E o Hamas tem uma dificuldade muito grande de negociar e até reconhecer Israel. A partir de 2006, a situação se deteriorou muito na Faixa de Gaza”, destaca Valente.
Em geral, os confrontos envolvem o lançamento de foguetes pelo Hamas a cidades de Israel e ataques de Israel a Gaza, por meio de bombardeios e ofensivas terrestres (quando militares israelenses entram no território palestino).
Além dos confrontos abertos que resultaram em centenas de mortes (na maioria, de palestinos), a relação entre israelenses e palestinos nas últimas décadas tem sido marcada por atentados, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos, intifadas (revoltas populares) e tentativas de acordos de paz que sempre são emperradas por algum motivo.
Entre os pontos de desacordo estão a divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.
Repórter do jornal Alghad, com sede em Amã, a jordaniana Taghreed Risheq cobre o conflito há quatro anos e não tem esperanças de que a questão seja resolvida logo.
“Se os dois lados quiserem viver em paz, eles precisam se submeter às leis internacionais. Em primeiro lugar, Israel deveria se retirar das terras ocupadas [na Cisjordânia, a partir de 1967], de acordo com resoluções da ONU. Eles deveriam concordar em assuntos como a divisão de Jerusalém, entre palestinos [leste] e israelenses [oeste], questões de segurança, fronteiras e direito ao retorno [dos refugiados palestinos]”, disse.
A opinião de que não há solução para o conflito em um futuro próximo é partilhada pela jornalista libanesa Paula Astih, correspondente, em Beirute, do jornal inglês publicado em língua árabe Asareq el Awsat.
“O conflito israelense-palestino se torna mais complexo a cada ano. Palestinos querem sua terra de volta e os esforços políticos para consegui-la parecem ser em vão. É por isso que muitos palestinos acreditam em resistência. Sem falar nos milhões de refugiados [palestinos] que vivem hoje no Líbano, na Jordânia, na Síria e por todo o globo, e nos outros que ocuparam as terras [dos refugiados] há anos e não vão querer devolvê-la. Haverá apenas guerras, com algumas tréguas, mas não a paz”, ressaltou a jornalista.
Na opinião da pesquisadora Gisele Chagas, para que um processo de paz tenha início, é preciso, entre outras coisas, que as fronteiras pré-1967 sejam respeitadas e que haja uma solução para os refugiados palestinos. “É preciso acabar com a perspectiva israelense de colonização da Cisjordânia, resolver o problema dos refugiados e ter a ideia de um Estado palestino soberano, com fronteiras bem definidas e controle de seus próprios recursos naturais”, disse.
Fonte:http://exame.abril.com.br/

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Tributo ao mestre da literatura Ariano Suassuna

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Ariano Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e romancista, desde 1990 ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo (1806-1879).

Filho de João Suassuna e de Rita de Cássia Vilar, Ariano estava com um pouco mais de três anos quando seu pai, que havia governado o Estado no período de 1924 a 1928, foi assassinado no Rio de Janeiro, em conseqüência da luta política às vésperas da Revolução de 1930.

No mesmo ano, sua mãe se transferiu com os nove filhos para Taperoá, onde Ariano Suassuna fez os estudos primários. No sertão paraibano Ariano se familiarizou com os temas e as formas de expressão que mais tarde vieram a povoar a sua obra.

Em 1942, a família se mudou para Recife e os primeiros textos de Ariano foram publicados nos jornais da cidade, enquanto ele ainda fazia os estudos pré-universitários. Em 1946 Ariano iniciou a Faculdade de Direito e se ligou ao grupo de jovens escritores e artistas que tinha à frente Hermilo Borba Filho, com o qual fundou o Teatro do Estudante Pernambucano. No ano seguinte, Ariano escreveu sua primeira peça, "Uma Mulher Vestida de Sol", e com ela ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno.

Após formar-se na Faculdade de Direito, em 1950, passou a dedicar-se também à advocacia. Mudou-se de novo para Taperoá, onde escreveu e montou a peça "Torturas de um Coração", em 1951. No ano seguinte, voltou a morar em Recife. O Auto da Compadecida (1955), encenado em 1957 pelo Teatro Adolescente do Recife, conquistou a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. A peça o projetou não só no país como foi traduzida e representada em nove idiomas, além de ser adaptada com enorme sucesso para o cinema.

No dia 19 de janeiro de 1957, Ariano se casou com Zélia de Andrade Lima, com a qual teve seis filhos. Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura, do qual fez parte de 1967 a 1973 e do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, no período de 1968 a 1972.

Em 1969 foi nomeado Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, ficando no cargo até 1974.

Ariano estava sempre interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais e, no dia 18 de outubro de 1970, lançou o Movimento Armorial, com o concerto "Três Séculos de Música Nordestina: do Barroco ao Armorial", na Igreja de São Pedro dos Clérigos e uma exposição de gravura, pintura e escultura.

O escritor também foi Secretário de Educação e Cultura do Recife de 1975 a 1978. Doutorou-se em História pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1976 e foi professor da UFPE por mais de 30 anos, onde ensinou Estética e Teoria do Teatro, Literatura Brasileira e História da Cultura Brasileira.

Seu "Romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta" publicado originalmente em 1971 teve a primeira edição. Relançado somente em 2005 teve sua segunda edição esgotada em menos de um mês, o que é uma coisa rara para um volume de quase 800 páginas.
Após sofrer um AVC hemorrágico, o escritor morreu aos 87 anos no Real Hospital Português de Recife.

Curiosidades:

1 - Suassuna estava trabalhando em uma obra inédita desde 1981
Considerada a obra de sua vida, a série A Ilumiara começou a ser escrita 33 anos atrás e mescla romance, poesia, teatro e gravuras do próprio Ariano. Depois de terminar o primeiro volume do romance epistolar (a obra teria sete), o escritor declarou ter feito um acordo com Deus: "Se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrilégio ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte".
2 - Ele escrevia tudo à mão
Ariano tinha o costume de escrever todos os seus textos à mão. De acordo com ele, é meio desumano escrever pelo computador.
3 - Era próximo do Governo de Pernambuco
Até abril deste ano, Suassuna foi secretário da Assessoria Especial do então governador de Pernambuco.
4 - A morte do pai foi um trauma em sua vida
João Suassuna, pai de Ariano, foi assassinado no Rio de Janeiro, acusado de ser mandante do assassinato de João Pessoa, então presidente da Paraíba - cargo que ele próprio havia ocupado. Na véspera, ele deixou uma carta já prevendo o pior e alegando sua inocência. :(
5 - Suassuna chamava a morte de Caetana
Assim é como chamam a morte no sertão da Paraíba e de Pernambuco. "Como o povo sertanejo é machista, só criou a morte feminina. Aí eu, de minha parte, já inventei a contrapartida masculina. Eu acho que a morte aparece como mulher aos homens e como homem às mulheres", disse Suassuna em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
6 - Ele era religioso
Suassuna era católico, devoto de muitos santos e revelou estar bastante entusiasmado com o Papa Francisco.
7 - Era amigo de um dos jornalista que cobriu a conclave
Gerson Camarotti acompanhou a cerimônia e contou tudo para Suassuna. Ele é autor de Segredos do conclave, cuja introdução foi escrita pelo amigo.
8 - Suas ideias surgiam quando estava na cama
O poema Sonho veio de um sonho que teve. "Às vezes, quando não estou acordado ainda, mas não estou mais dormindo, é o momento em que invento muita coisa, muito criativo", revelou o escritor em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
9 - Conhecia Eduardo Campos desde que ele era menino
Suassuna foi amigo do pai e do avô dele. "Considero Eduardo Campos o político mais brilhante que já conheci. Ele é de uma capacidade de articulação que você não pode imaginar. Outra coisa: É paciente, é obstinado. Ele tem todas as qualidades de um político", disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
10 - Era entusiasta do governo Lula
Ariano Suassuna declarou que tinha uma espécie de relacionamento fraterno com o ex-presidente.
11 - Ele nunca saiu do Brasil
Suassuna tinha horror a viagens e amava o país. Por esses motivos, o escritor nunca quis viajar para o exterior.
12 - Ele construiu um santuário ao ar livre
A construção foi feita em São José do Belmonte, no estado de Pernambuco, local onde ocorre a cavalgada inspirada em seu primeiro romance, Romance d'a pedra do reino. As três primeiras imagens do santuário são Jesus, Nossa Senhora e São José, que é o padroeiro do município.
13 - Ele criou o Movimento Armorial
Um ano após ser nomeado diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE, ele iniciou o Movimento Armorial, com o objetivo de valorizar e tornar mais evidente os vários aspectos da cultura do Nordeste brasileiro, desenvolvendo todas as formas de expressão populares da região.
14 - Gostava de futebol e era torcedor fanático do Sport Club Recife

A imagem abaixo já diz tudo...


terça-feira, 22 de julho de 2014

A verdadeira Primeira Guerra pode ter ocorrido há 13 mil anos

Às vésperas da comemoração do centenário da Primeira Grande Guerra Mundial, pesquisadores descobrem vestígios de um confronto bélico de grandes proporções, o mais antigo que se tem notícias. As guerras não são uma novidade da história moderna do mundo.

Sua tradição está presente em todas as civilizações, desde os primórdios da humanidade. De acordo com um estudo recente, realizado por pesquisadores franceses sobre restos humanos encontrados nas margens do Rio Nilo, o primeiro grande conflito armado teria acontecido há 13 mil anos, e durou muitos meses.

Uma investigação paralela feita por antropólogos ingleses e norte-americanos revelou que a causa mais provável tenha sido uma disputa sobre diferenças raciais. Essa teoria se baseia na etnia dos esqueletos encontrados, pertencentes ao povo subsaariano, os mais primitivos ancestrais da raça negra contemporânea. Seus inimigos poderiam pertencer a outra etnia, mais precisamente ao povo levantino, que habitava a região do Mediterrâneo.

Os dois grupos tinham características físicas bastante diferentes, além de grandes discrepâncias culturais e linguísticas, o que poderia ter causado uma grande disputa pelos recursos naturais do lugar. Tudo indica que o enfrentamento tenha ocorrido durante uma época de grandes mudanças climáticas, após um período de resfriamento global, que promovia grandes migrações de pessoas em busca dos poucos alimentos e outros recursos de subsistência disponíveis.
Assim teria começado a longa e triste história das grandes guerras mundiais.
Fonte e imagens: The Independent

sábado, 19 de julho de 2014

Os verdadeiros amigos e inimigos dos assalariados - um desafio intelectual para a esquerda

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Muitas pessoas — a saber, social-democratas, moderados, socialistas, comunistas, sindicalistas e outros — creem que empreendedores e capitalistas são os inimigos, e que os sindicatos e as legislações trabalhistas, os amigos dos assalariados.  Trata-se de um erro enorme, com consequências devastadoras.  Um estudo integrado da Escola Austríaca com a Escola Clássica prova o exato oposto dessa crença.  Ele prova que empreendedores e capitalistas são os amigos, e os sindicatos e as legislações trabalhistas, os inimigos dos assalariados.
Eis a seguir, em sua essência mais resumida, a explicação.
Quanto maior o respeito pelos direitos de propriedade e pela liberdade econômica dos empreendedores e capitalistas, maior o grau de poupança no sistema econômico, e, consequentemente, maior a demanda por mão-de-obra em relação à demanda por bens de consumo, e, consequentemente, maiores serão os salários em relação aos lucros.  Ao mesmo tempo, quanto maior a demanda por bens de capital em relação à demanda por bens de consumo, maiores serão os incentivos para se desenvolver e introduzir produtos e métodos de produção mais aprimorados.
O resultado dessa combinação é uma contínua acumulação de capital e uma crescente produtividade da mão-de-obra.  O efeito do aumento progressivo da produtividade da mão-de-obra, no capitalismo, é um aumento progressivo da oferta de bens de consumo em relação à oferta de mão-de-obra, e, por conseguinte, uma redução progressiva nos preços dos bens de consumo em relação aos salários. (No cenário atual, em que há um constante aumento na quantidade de dinheiro, há também um crescente aumento na demanda monetária tanto por mão-de-obra quanto por bens de consumo.  No cômputo final, os salários aumentam mais rapidamente que os preços.  De um jeito ou de outro, o resultado é um aumento nos salários reais.)
O aumento nos salários reais, resultado da poupança e da inovação de empreendedores e capitalistas, significa uma crescente capacidade dos assalariados em trabalhar menos horas por mês e de prescindir do trabalho de suas crianças.  Mais ainda: tal postura dos empreendedores e capitalistas significa uma melhora crescente nas condições de trabalho, melhora essa que não é coberta pelo aumento da eficiência produtiva, significando um gasto a mais para os patrões.  Nesse sentido, a poupança e a inovação dos empreendedores e capitalistas são de fato as responsáveis por todas as melhoras nas condições dos assalariados — algo que é tipicamente, e de modo completamente errôneo, atribuído aos sindicatos e às legislações trabalhistas.
Os sindicatos nem mesmo sabem como elevar os salários reais.  Tudo que lhes interessa é elevar os salários nominais e proteger os empregos dos membros específicos de seu sindicato.  Dado que os sindicatos não controlam a quantidade de dinheiro ou o volume de gastos no sistema econômico, a única maneira como eles podem elevar os salários nominais de seus membros é reduzindo artificialmente a oferta de mão-de-obra em sua área de trabalho.  Porém, o efeito dessa medida é o de aumentar correspondentemente a oferta de mão-de-obra e reduzir os salários em outras áreas da economia.  Em outras palavras, o sucesso de um sindicato em específico é obtido à custa das perdas dos assalariados do resto do sistema econômico.  E as perdas necessariamente superam os ganhos, pois um aspecto essencial desse processo é que os trabalhadores serão forçados a aceitar empregos que requerem menos habilidades do que os empregos aos quais lhes foram negado acesso pelos sindicatos.
Se os sindicatos, ou a união entre sindicatos e leis de salário mínimo, obtiverem êxito em elevar os salários em todo o sistema econômico, o efeito será um correspondente aumento do desemprego no sistema econômico, bem como preços maiores em decorrência dos maiores custos da mão-de-obra e da reduzida produção.  Se os sindicatos obtiverem êxito em fazer com que o governo e seu banco central aumentem a quantidade de dinheiro no ritmo de suas demandas salariais, o desemprego pode ser evitado, mas o efeito ainda assim será o aumento nos preços em conjunto com os aumentos salariais, sem que haja aumento nos salários reais.  Ademais, como uma política inflacionária provoca uma redução no acúmulo de capital, ela faz com que haja uma redução — e, caso seja alta o bastante, uma reversão — do aumento da produtividade da mão-de-obra e dos salários reais.
Os esforços dos sindicatos para proteger os empregos de seus membros é uma política de combater ativamente o aumento nos salários reais dos trabalhadores de todo o resto do sistema econômico.  Como já deveria estar claro em decorrência de tudo que foi dito, a maneira como os salários reais aumentam não é fazendo com que o trabalhador comum ganhe mais dinheiro.  Ganhar mais dinheiro é meramente o resultado do aumento da quantidade de dinheiro, ou da redução da oferta de mão-de-obra disponível no mercado ao se forçar parte dos trabalhadores a ficar desempregada.
Os salários reais aumentam como resultado do acúmulo de capital e do aumento na produtividade da mão-de-obra, o que faz com que os preços caiam (ou cresçam menos) em relação aos salários.  Ao combater o aumento da produtividade da mão-de-obra, os sindicatos combatem ativamente o aumento nos salários reais.  Assim, por exemplo, quando os sindicatos dos tipógrafos se opõem à tipografia automatizada, e, como consequência, aos menores custos e menores preços resultantes do material impresso, eles estão na realidade combatendo o aumento nos salários reais dos trabalhadores de todo o sistema econômico, os quais poderiam agora obter material impresso por menos dinheiro e teriam correspondentemente mais dinheiro para gastar em outras coisas — coisas essas que os trabalhadores dispensados da tipografia mecânica poderiam ajudar a produzir. 
De maneira idêntica, o mesmo é válido sempre que qualquer sindicato se opõe a aperfeiçoamentos que poupam mão-de-obra: tanto o poder de compra dos assalariados de todo o sistema econômico quanto a oferta de bens disponíveis para eles comprarem são restringidos.
Sim, um sindicato pode agir assim por achar que seus trabalhadores terão dificuldades em encontrar novos empregos.  Porém, essas dificuldades seriam muito menores caso os salários nominais no sistema econômico fossem menores e, consequentemente, a quantidade de mão-de-obra demandada fosse maior.  E o que tornaria isso possível é a ausência de escalas salariais coercivamente impostas pelos sindicatos e a ausência de leis do salário mínimo.
Sim, há momentos em que os patrões de fato tratam seus empregados desrespeitosamente, chegando até a tratá-los como se fossem essencialmente algo sem valor.  Porém, o que provoca tais condições é um excesso de oferta de mão-de-obra disponível em relação à quantidade de mão-de-obra demandada.  Em tais condições, um empregador não precisa temer a perda de um empregado, pois este pode imediatamente ser substituído por outros desempregados.  Sendo assim, o empregado estará sempre disposto a tolerar abusos, simplesmente por medo de ser demitido e não ser capaz de encontrar outro emprego.
Porém, o que provoca essa situação é justamente o fato de os salários serem mantidos muito acima da relativa demanda por mão-de-obra.  Isso surge naturalmente em um ambiente em que há um sistema bancário de reservas fracionárias, cuja expansão do crédito é sempre seguida de uma contração financeira e os salários quase nunca caem até o nível requerido por essa contração econômica.  Se os salários pudessem cair livremente, a quantidade de mão-de-obra demandada aumentaria, igualando-se à oferta disponível.  Nesse ponto, a escassez de mão-de-obra seria sentida e o empregado deixaria de ser algo instantaneamente substituível por outros desempregados.  Ademais, ele estará em condições de encontrar outros empregos, e dessa forma não aceitará sofrer abusos.
A solução, novamente, é o livre mercado.  E, ironicamente, na medida em que os sindicatos e as leis do salário mínimo impedem o ajuste dos salários à demanda por mão-de-obra — e, por conseguinte, impedem o avanço natural do mercado a uma situação de pleno emprego —, ambos são responsáveis pelos maus tratos dos trabalhadores, algo de que seus defensores sempre reclamam.  (Situação idêntica acontece com usuários de serviços públicos monopolizados pelo governo, que sempre são tratados como objetos sem valor.  Como a demanda é sempre maior que a oferta, e qualquer "cliente" pode ser instantaneamente substituído por outro, os usuários têm de resignadamente tolerar abusos, pois não têm para onde mais ir.)
A redução nos salários necessária para eliminar o desemprego serve para aumentar a produção ao mesmo tempo em que reduz os custos de produção.  Serve, portanto, para reduzir os preços.  Também elimina o fardo de os trabalhadores terem de sustentar os desempregados.  Como resultado, é praticamente certo que tal medida resultará em um aumento do salário líquido real.  (Para entender melhor esse processo, clique aqui).
Há pessoas que são tão improdutivas, que produzem tão pouco por hora, que precisam trabalhar muitas horas para obter o mínimo necessário para suas necessidades, e às vezes precisam até mesmo utilizar a mão-de-obra de seus filhos como fonte de receita adicional.  Obrigar essas pessoas a trabalharem menos e a dispensar o trabalho de seus filhos seria tão benéfico quanto obrigar Robinson Crusoé a trabalhar menos ou a Família Robinson a trabalhar menos e dispensar o auxílio de seus filhos.  Crusoé e a família Robinson trabalhavam porque era disso que necessitavam para sobreviver.  Obrigar os pobres a trabalhar menos é obrigá-los a serem mais pobres do que podem para sobreviver.  Não é de nenhum consolo o fato de que aqueles que provocam um maior empobrecimento dos pobres são os mesmo que dizem possuir boas intenções e estarem apenas querendo ajudar.  Eles causam apenas sofrimento e precisam aprender a parar.
Como demonstrado, o que realmente reduziu os dias de trabalho e aboliu o trabalho infantil não foi a interferência destrutiva do estado, mas o dramático e progressivo aumento na produtividade da mão-de-obra criado por empreendedores e capitalistas.  Isso aumentou os salários reais e tornou possível que cada vez mais trabalhadores pudessem se dar ao luxo de aceitar os comparativamente menores salários de empregos que exigiam menos horas de trabalho, além de eliminar a necessidade de colocar suas crianças para trabalhar.
À medida que uma crescente proporção de assalariados passou a preferir menos horas de trabalho, o efeito foi o mesmo do de uma crescente proporção de trabalhadores passar a preferir um determinado arranjo de ocupações em relação a um outro arranjo qualquer, isto é, preferir uma redução nos salários em suas ocupações preferidas em relação aos salários maiores das ocupações não preferidas.  Assim, os salários de empregos com menos horas de trabalho sofrem um desconto em relação aos empregos que exigem mais horas de trabalho, os quais oferecem um ágio nos salários.  Isso faz com que seja lucrativo para os empregadores diminuir as horas de trabalho.  É assim que o livre mercado encurta as horas de trabalho.
Meu desafio para a esquerda: leiam e estudem essas ideias detalhadamente e em profundidade.  Corram o risco de abandonar as falácias que vocês atualmente consideram conhecimento e, em troca, ganhem a satisfação de ter um conhecimento real.  Parem de apoiar os inimigos do progresso econômico e os malefícios que eles trazem para os assalariados e deem seu apoio aos verdadeiros amigos do progresso econômico e dos assalariados.  A transformação de intelectuais esquerdistas em defensores do capitalismo iria, com efeito, ajudar enormemente a mudar a direção do mundo.  E, se eliminar a pobreza é o que vocês de fato querem, ajudem a mover o mundo em direção ao caminho para o qual vocês alegam querer que ele vá.

Fonte: http://www.mises.org.br/
George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com.

Os sete mitos da conquista da América

Como poucas centenas de espanhóis submeteram milhões de índios, alguns tão desenvolvidos quanto as mais avançadas civilizações européias?


Nem bem o sol iluminou o lago Texcoco, no imenso Vale do México, os dois maiores líderes do Novo Mundo colocaram-se frente a frente. Era 8 de novembro de 1519 e havia anos que espanhóis e nativos se pegavam em violentas batalhas nas terras recém-descobertas da América. De um lado, Hernán Cortez personificava a figura do conquistador europeu como ninguém. Do outro, o todo-poderoso imperador asteca Montezuma II permanecia impassível. Apesar da expectativa de um encontro amigável, a tensão era tão óbvia quanto inevitável. Espanhóis e astecas trocavam olhares, até que Montezuma desceu de sua pequena tenda e foi em direção aos invasores. Cortez repetiu o gesto. Saltou do cavalo e seguiu ao encontro do imperador. A tensão aumentava a cada passo. Olhos nos olhos, eles esboçaram saudações de respeito mútuo, mas não trocaram mais do que poucas palavras, com a ajuda de um intérprete. De qualquer forma, a diplomacia prevaleceu. E, pacificamente, todos tomaram o rumo de Tenochtitlán, a capital do império asteca. Alguns meses depois, os dois lados voltariam a se encontrar. Mas, desta vez, numa sangrenta batalha que culminaria com a morte de Montezuma e faria de Cortez o homem mais poderoso do América espanhola.
Até hoje, muitos historiadores consideram este episódio como o maior símbolo do encontro entre dois continentes. E não por acaso. Pela primeira vez, um imperador nativo acolheu em suas terras o representante de um povo que estava ali justamente para conquistá-las. Além disso, as diferenças culturais entre os dois grupos nunca estiveram tão expostas quanto naquela manhã de novembro. Estas diferenças, além das idiossincrasias do século 16, ajudaram a perpetuar pelos séculos o que o historiador americano Matthew Restall, professor da Universidade da Pensilvânia, chama de “sete mitos da conquista espanhola das Américas” em seu livro Seven Myths of the Spanish Conquest (inédito em português)
Esses mitos podem ser identificados na figura de Cortez, até hoje citado por sua genialidade militar, pela forma como usou e inovou a tecnologia disponível na época, pela maneira astuta como manipulou “índios supersticiosos” e pelo modo heróico com que levou algumas centenas de espanhóis à vitória, contra um império de milhares de guerreiros. Mas a história não foi bem assim. Desde a primeira vez que Cristóvão Colombo pisou nas ilhas do Caribe, os homens enviados para cá se encarregaram de capitalizar o feito em benefício próprio, aumentando uma coisinha aqui, inventando uma ali.
Meia dúzia de aventureiros
O mito dos homens excepcionais e seus feitos extraordinários
Cristóvão Colombo estava em algum lugar do Atlântico, em 1504, quando a rainha da Espanha enviou uma esquadra para prendê-lo e levá-lo acorrentado para a Europa. Desde sua primeira viagem pelo Novo Mundo, seu prestígio já não era o mesmo. Sua insistência na mentira de que havia achado uma nova rota para as Índias, fato que lhe rendeu títulos e status, havia deixado a coroa espanhola irritada depois que Vasco da Gama contornou o Cabo da Boa Esperança e deu aos portugueses a liderança na corrida por um caminho mais curto para o Oriente.
A fama de Colombo estava irreversivelmente abalada, ele caiu em descrédito e tornou-se um pária. Mas como, depois de morto, ele se tornaria um herói? Para Restall, a idéia de que ele foi um visionário, um homem à frente de seu tempo surgiu durante as comemorações do tricentenário da descoberta da América, num país que também acabava de nascer: os Estados Unidos. Colombo foi tomado como símbolo dessa nova terra: aventureiro, destemido, um gênio a frente de seu tempo. “Mas a coisa mais espetacular sobre a visão geográfica de Colombo era a de que estava errada. A percepção de que a Terra era redonda, fato geralmente citado para imputar-lhe a condição de visionário, por exemplo, era comum a qualquer pessoa escolarizada da época”, diz Restall.
Esse é só um exemplo do mito de que a conquista da América só foi possível graças à coragem e à genialidade de meia dúzia de conquistadores e que surgiu desde os primeiros relatos dos colonizadores enviados à Espanha. Para obter a permissão de explorar novas terras, eles precisavam provar que a colonização era rentável e, para tanto, escreviam qualquer lorota: omitiam fatos, inventavam histórias, exaltavam a si mesmos. Hernán Cortez e Francisco Pizarro, responsáveis pelos tombos dos impérios asteca e inca, respectivamente, foram especialmente beneficiados por tais relatos e elevados à categoria de heróis. Biógrafos, cronistas e religiosos que participaram das expedições ajudaram a construir esta imagem, por meio das cartas enviadas à coroa, chamadas de probanzas de mérito (ou “provas de mérito”).
Pelo menos num ponto, porém, os relatos tinham razão: a desvantagem numérica dos espanhóis – fato que os levou a derrotas freqüentemente ignoradas nas tais probanzas de mérito. Como, então, os conquistadores conseguiram expandir seus domínios e subjugar milhares de nativos? A resposta não está na genialidade militar de Cortez ou Pizarro. Em nenhum momento eles apresentaram novas táticas de guerra e, na maior parte do tempo o que fizeram foi seguir rotinas adotadas em conflitos anteriores ao descobrimento. Uma das mais importantes foi a aliança com os nativos (que veremos mais adiante). Mesmo assim, eles não abriram mão de procedimentos igualmente eficientes, mas que nada tinham de inventivos: o uso da violência indiscriminada para intimidar os resistentes. Nos casos extremos, pessoas eram decepadas ou queimadas vivas em praça pública, tinham braços e mãos amputados e suas famílias recebiam seus corpos, o que costumava garantir a submissão de outros nativos.
Nem pagos, nem forçados
O mito de que os espanhóis que desembarcaram na América eram todos militares
A esquadra de Colombo mal aportou na praia da ilha de Hispaniola, no Caribe, e um grupo de soldados já estava perfilado na areia. Vestiam armaduras reluzentes, carregavam as mais potentes armas da época e aguardavam apenas a ordem de seu capitão para marchar em direção às terras do Novo Mundo. Disciplinados, estavam prontos para enfrentar o inimigo. Faziam parte de uma grande operação militar. Afinal, eram soldados. Esta cena jamais aconteceu, mas passa a idéia, constantemente repetida em filmes, ilustrações e livros, de que os conquistadores eram militares enviados pelo rei e faziam parte de uma máquina de guerra.
Mas, então, quem eram eles? Nobres aventureiros ou plebeus em busca da terra prometida? A rigor, nem uma coisa, nem outra. Em sua maioria, os espanhóis eram artesãos, comerciantes e empreendedores de pequeno porte, com menos de 30 anos de idade, alguma experiência em viagens desse tipo e sem qualquer treinamento militar. Armavam-se como podiam e entravam na primeira companhia que pudesse lhes render a quantia necessária para investir em outras expedições. Assim, poderiam acumular riquezas até receber as chamadas encomiendas – ou seja, o direito de cobrar taxas e impostos sobre a produção de uma determinada área conquistada e faturar em cima do trabalho de um grupo de nativos.
A maioria dos conquistadores não recebia ajuda financeira da coroa. Em geral, viajava por sua conta e risco em busca de status e dinheiro. Ou, no máximo, tinha um vínculo com eventuais patrocinadores, em nome dos quais as terras recém-descobertas eram exploradas. De qualquer forma, eles não eram pagos, tampouco obrigados a viajar. E muito menos soldados aptos a lutar pelos interesses da Coroa.
Guerreiros invisíveis
O mito de que poucos soldados brancos venceram milhares de guerreiros índios
Quando o conquistador Bernal Díaz de Castillo viu a capital asteca pela primeira vez, não conseguiu descrever a visão que teve do alto do Vale do México. A metrópole pontilhada de pirâmides, irrigada por canais navegáveis, engenhosamente construída para ser a referência de outras grandes cidades do império, poderia ser comparada às maiores capitais européias. Uma pergunta talvez lhe tenha surgido: como poucos de nós poderemos subjugá-la? Seguindo o mesmo raciocínio, como apenas centenas de europeus poderiam vencer os milhões de índios espalhados pelo continente? Nem a “genialidade” de seus líderes, a pólvora ou o aço espanhol dariam conta. Há algumas respostas para essas questões.
A primeira é que os espanhóis sempre foram minoria nos campos de batalha da América, mas jamais lutaram sozinhos. Os nativos nunca formaram uma unidade política, nem no caso de astecas e maias, que fosse imune às rivalidades e intrigas. E os conquistadores se aproveitaram, desde muito cedo, dessa desunião, conseguindo formar verdadeiros exércitos índios, dispostos a eliminar seus inimigos. Na primeira vez que Cortez chegou a Tenochtitlán, mais de 6 mil aliados davam cobertura aos espanhóis, que eram cerca de 200. Na batalha final, alguns meses depois, ele conseguiu reunir mais de 200 mil homens para tomar a capital asteca. “As pessoas tendem a imaginar que os povos americanos eram unidos em torno de uma identidade nativa. Na verdade, acontecia o contrário. Quando os espanhóis chegaram à América, encontraram várias tribos rivais, que não precisavam de mais que um empurrãozinho para entrar em conflito”, afirma Restall.
Além disso, no final do século 16, cerca de 100 mil africanos desembarcaram na América. A princípio, eles trabalhavam como serventes e auxiliares dos espanhóis, mas, sempre que necessário, recebiam armas para lutar contra os inimigos. Como recompensa, ganhavam a liberdade e logo eles também se tornavam conquistadores.
Sob a tutela do rei
O mito de que, em pouco tempo, toda a América estava sob jugo espanhol
Palavras de Cortez: “Deixei a província de Cempoala totalmente segura e pacificada, com 50 mil guerreiros e 50 cidades. Todos estes nativos têm sido e continuam sendo fiéis vassalos de Vossa Majestade. E acredito que eles sempre serão”. A carta de Cortez enviada ao rei da Espanha dá uma boa idéia de como funcionava a burocracia da conquista. Para o monarca, não bastava o conquistador encontrar uma terra e reivindicar o direito de explorá-la. Ele precisava convencê-lo de que aquela região era economicamente viável, de preferência com minas de ouro e prata, e contava com mão-de-obra para tirar dali tais riquezas. Como resultado, os líderes espanhóis não pensavam duas vezes antes de carregar seus pedidos com informações exageradas.
Essa combinação de fatores contribuiu para a criação do mito de que a conquista total dos povos americanos foi alcançada logo nos primeiros anos da presença espanhola. Muitas cidades, no entanto, resistiram à dominação durante décadas. No Peru, alguns estados independentes só foram dominados depois de 1570, após a morte de líderes como Túpac Amaru. Quando os espanhóis fundaram Mérida, em 1542, boa parte da península de Yucatán, na América Central, permaneceu sob a influência dos maias – e muitas políticas elaboradas por eles sobreviveram até 1880. A experiência espanhola na atual Flórida, nos Estados Unidos, foi ainda mais desastrosa. Pelo menos seis expedições foram enviadas para lá entre 1513 e 1560, quando a região finalmente foi controlada pelos europeus. Mas um dos exemplos mais curiosos vem da bacia do Prata, onde os fundadores de Buenos Aires, em 1520, viraram jantar de tribos canibais.
Outro aspecto que mostra que a conquista não foi total era a relativa autonomia que alguns nativos mantiveram em relação aos seus dominadores – condição sancionada pelos próprios oficiais espanhóis, que procuravam não intervir nas regras que vigoravam antes de eles chegarem. E não por acaso. Esta era mesmo a melhor forma de garantir a manutenção das fontes de trabalho e da produção agrícola. Além disso, membros da elite nativa participavam dos conselhos das cidades coloniais, onde eram tomadas as decisões mais importantes. Ou seja, além de continuar influenciando politicamente, eles mantiveram o status que tinham antes da descoberta.
As palavras de La Malinche
O mito de que a falta de comunicação levou ao massacre indígena
Foi na praça central da cidade inca de Cajamarca que Pizarro e Atahualpa se viram pela primeira vez, em 1532, numa espécie de versão peruana do encontro entre Montezuma e Cortez. Ao lado do conquistador, menos de 200 homens armados pareciam não temer os mais de 5 mil nativos leais ao imperador. E, de fato, eles não tinham porque se intimidar: a maioria dos locais não possuía uma arma sequer. O primeiro espanhol a se aproximar de Atahualpa foi um frei dominicano que segurava uma pequena cruz numa das mãos e a Bíblia na outra. Em poucos minutos, a batalha havia começado. Mas, apesar da desvantagem numérica, os invasores conseguiram dizimar um terço dos nativos. Atahualpa foi capturado.
Há várias versões sobre os motivos que causaram a briga e sobre como a batalha de Cajamarca começou. Francisco de Jerez, presente no local, escreveu que o imperador atirou a Bíblia ao chão, porque não a entendia. A blasfêmia teria sido o motivo para Pizarro dar o sinal de ataque. Na versão inca, no entanto, a ofensa partiu dos espanhóis, que teriam se recusado a tomar uma bebida sagrada oferecida por Atahualpa.
É praticamente impossível saber o que aconteceu de fato naquele dia, mas o encontro sangrento entre incas e espanhóis é um bom exemplo de como as supostas falhas na comunicação serviram para justificar as ações dos europeus e, por conseqüência, a própria conquista. Mas estas falhas não eram tão freqüentes assim. O diálogo entre Montezuma e Cortez, por exemplo, apesar de ter gerado diferentes interpretações, mostra que os dois lados podiam se entender muito bem. Isso graças a uma figura central durante todo o processo de colonização: os intérpretes. O papel deles foi tão importante que um dos principais procedimentos de guerra era justamente encontrar e “formar” tradutores. Alguns destes tradutores se deram tão bem que alcançaram status inimagináveis para um nativo. Receberam encomiendas e chegaram a ser citados nas cartas enviadas ao rei. O exemplo mais famoso é o de La Malinche, a amante e intérprete que acompanhou Cortez durante anos e esteve presente no encontro com Montezuma.
O fim dos índios
O mito de que a conquista só trouxe desgraça para os nativos
A derrota de Cortez era inevitável. Havia horas que ele e seus guerreiros lutavam contra a união de três exércitos inimigos na grande praça central de Tlaxcala, uma comunidade nativa aliada aos espanhóis, e a derrocada do conquistador se aproximava a cada golpe. Finalmente ele seria vencido. E foi mesmo. Ainda no chão, Cortez pôde ouvir os aplausos efusivos da platéia. Aquela encenação do dia de Corpus Christi ficou conhecida como o evento teatral mais espetacular e sofisticado do ano de 1539. Numa curiosa inversão de papéis, o conquistador interpretou o Grande Sultão da Babilônia e Tetrarca de Jerusalém. O papel dos reis da Espanha, Hungria e França ficou com os nativos da comunidade.
O Corpus Christi de Tlaxcala não foi o único festival do século 16 no Novo Mundo. A imensa maioria das colônias da Mesoamérica e dos Andes encenou, dançou e até representou as batalhas contra os espanhóis. Muitas dessas manifestações culturais sobrevivem até hoje. Mas o curioso é que o objetivo não era reconstruir a conquista como algo traumático. Ao contrário. Para os nativos, os festivais significavam uma celebração de sua integridade e vitalidade cultural. “Eram eventos que transcendiam aquele momento histórico particular e não estavam associados à lembrança de algo ruim. Até porque o sentimento de derrota não era algo comum a todos os povos nativos”, afirma Restall.
Manifestações desse tipo eram apenas uma das formas pelas quais os nativos mostravam que o impacto da conquista não foi tão traumático quanto sugere boa parte da retórica comum. Muitas comunidades mantiveram seu estilo de vida e outras tantas evoluíram rapidamente com a necessidade de se adaptar às novas tecnologias e demandas trazidas pelos espanhóis. Aprenderam novas formas de contar, construir casas, planejar cidades e, sobretudo, guerrear. Assim, houve nativos que enriqueceram com o comércio de alimentos e com o aluguel de mulas. O povo Nahua, por exemplo, depois de lutar ao lado dos espanhóis por anos, organizaram campanhas militares próprias e expandiram seus domínios para além das terras onde hoje estão Guatemala, Honduras e parte do México.
Macacos e homens
O mito da superioridade e da predestinação dos europeus
“Os espanhóis têm a governar estes bárbaros do Novo Mundo. Eles são em prudência, ingenuidade, virtude e humanidade tão inferiores aos espanhóis quanto as crianças são para os adultos, e as mulheres, para os homens”, escreveu o filósofo Juan Ginés de Sepúlveda, em 1547. O mito da superioridade espanhola é visto em todos os relatos do período colonial. Para Restall, ele vem desde as primeiras expedições e está ligado à justificativa de que os europeus tinham a aprovação divina para conquistar novas terras. Eles acreditavam que eram os escolhidos de Deus, os encarregados de levar o cristianismo a outros povos.
Existem outros fatores, no entanto, que ajudaram a perpetuar este mito. Um deles combina a crença de que os nativos seriam incapazes de evitar a invasão dos europeus porque eles (os nativos) também acreditavam que os espanhóis eram deuses. De fato, os povos americanos enxergavam os conquistadores como seres poderosos, mas em nenhum momento – nem mesmo nos relatos dos cronistas do período colonial – os nativos comparam os espanhóis a seres supremos, ou deidades. Além disso, a diferença brutal entre as armas dos dois grupos também ajudou a construir a idéia da superioridade espanhola.
Mas Deus não foi o principal aliado dos espanhóis. A expansão dos europeus só foi possível graças a três fatores. O primeiro e mais determinante foram as doenças que os estrangeiros trouxeram. Sem oferecer nenhuma resistência para varíola, sarampo e gripe, os nativos morreram tão rápido que em poucas décadas tribos inteiras foram extintas. O impacto das epidemias foi tão devastador que, um século e meio após a chegada de Colombo, a população de nativos havia caído mais de 90%. Os astecas sentiram o poder desses males. “As ruas estavam tão cheias de gente morta e doente que nossos homens caminhavam sobre corpos”, escreveu o padre Bernardino de Sahagún, quando os conquistadores tomaram Tenochtitlán.
O segundo aliado foi a desunião dos nativos. A rivalidade entre diferentes grupos étnicos e intrigas entre vizinhos levou dezenas de milhares de pessoas a lutarem ao lado dos espanhóis. As armas que os conquistadores trouxeram para estas batalhas são o terceiro fator mais importante. Nas primeiras expedições, várias delas fizeram diferença. Cavalos e até cachorros acabaram entrando nos campos de batalha. Mas a mais eficiente foi mesmo a espada, mais longa e resistente que os machados dos nativos. No campo da guerra, Matthew Restall considera ainda um outro fator. Os nativos lutavam em sua própria terra. Precisavam, portanto, proteger a família, defender suas casas, pensar no plantio, calcular a colheita e fazer o possível para não deixar que a guerra prejudicasse e interferisse no seu dia-a-dia. Por isso, eles sempre estiveram mais dispostos a negociar e a protelar os confrontos com os conquistadores. Já os espanhóis não tinham muito a perder. Basicamente, precisavam se preocupar apenas com suas próprias vidas. E com o que teriam de fazer para continuar conquistando novas cidades e acumulando mais riquezas.
Fonte:http://guiadoestudante.abril.com.br/

terça-feira, 15 de julho de 2014

Por que Hitler odiava os judeus?

O anti-semitismo tem raízes religiosas milenares

Para compreender o anti-semitismo, é fundamental diferenciá-lo do antijudaísmo. O antijudaísmo é o ódio à religião judaica como ideologia ou visão de mundo, enquanto o anti-semitismo é o ódio aos judeus como nação. Entretanto, aqueles que professam o antijudaísmo acabam sendo anti-semitas, uma vez que partem do pressuposto de que a religião judaica contaminou a nação que segue seus preceitos. Por sua vez, o anti-semitismo desemboca no antijudaísmo, ao sustentar-se na premissa de que só uma nação racialmente inferior pôde ter criado uma religião tida como a religião do Mal.


Na Antiguidade, seitas esotéricas conceberam a religião judaica como a religião do demônio e viam os judeus como os agentes na propagação dessa re-Religião do pecado. Essa cosmovisão foi resultado de uma crença dualista, isto é, em dois poderes criadores do universo: o Bem e o Mal, identificando os judeus com o Mal, o que os colocou no papel do mal cósmico e os viu como instrumento do demônio. Todavia, o momento histórico no qual se entrelaçam pela primeira vez e de forma radical antijudaísmo e anti-semitismo é na consolidação da visão paulina. Para o apóstolo Paulo, a revela-ção da Torá é uma revelação temporária, e aqueles que continuam no caminho da Torá após a chegada de Cristo são traidores. Segundo esse raciocínio, os judeus, ao rejeitarem Cristo como Messias e ao assassiná-lo, transformaram-se em agentes do Mal, no povo deicida.

Ao longo de toda a Idade Média, essa idéia foi desenvolvida e materializada pela Igreja católica. É de se destacar os cânones adotados no Concílio de Latrão (1215) que confirmavam a condenação dos judeus à servidão perpétua, proibiam sua integração na sociedade com o objetivo de impedir a contaminação dos cristãos, obrigavam o uso de signos de diferenciação nas vestes, impediam o acesso dos judeus aos cargos administrativos e os excluíam completamente da agricultura e das corporações. Essas medidas enraizaram na população um ódio milenar baseado numa ideologia demonizadora que culpou os judeus e o judaísmo pela morte de Cristo.

O termo anti-semitismo foi criado no século 19, quando as teorias religiosas que acusavam os judeus de deicídio ficaram caducas. Nesse momento, a partir de uma leitura tergiversada das teorias ligadas ao darwinismo social, o motivo para perseguir os judeus começou a ancorar-se em pressupostos biológicos. Assim, para Hitler, existiam três raças: as “fundadoras” ou superiores, representadas pelos povos germânicos, as “depositárias”, pelos povos eslavos, e as “destruidoras” ou inferiores, que tinham nos judeus o exemplo paradigmático. Obcecado com o ideal de pureza racial, Hitler compreendeu a História como uma permanente luta entre as diferentes raças, na qual a raça superior devia utilizar todos os meios necessários para manter sua pureza. A essa visão histórica foi acrescentado o mito da “conspiração judaica mundial”, fortemente difundido em toda a Europa que, entre outras falácias, divulgou a ideia do poder econômico do povo judeu e do seu monopólio dos meios de comunicação. Os judeus foram transformados no bode expiatório e culpados de todos os males pelos quais atravessava a Alemanha, fazendo com que sua eliminação se tornasse um imperativo de Estado.

Muitos ignoram que os campos de extermínio não estavam na Alemanha, mas na Europa do leste. Isso visava poupar os alemães do “trabalho sujo” e permitia aos poloneses, ucranianos e lituanos, acérrimos anti-semitas de longa data, colaborar ativamente com o ideal nazista de aniquilação total dos judeus. Nas cidades polonesas de Jedwabne, Radzilow, Wasosz e Stawinski, por exemplo, os moradores assassinaram milhares de judeus, sem nenhuma imposição dos ale-mães. Se algum episódio exemplifica o enraizado anti-semitismo polonês, ele é a matança de judeus depois de finalizada a guerra. O pogrom de Kielce (1946), um entre muitos, permanecerá na história polonesa como um dos maiores atos de covardia coletiva, no qual 42 sobreviventes do Holocausto foram assassinados pelos vizinhos. Por quê? Medo destes de ter de devolver, a seus donos judeus, as casas que haviam ocupado ilegalmente.

*Antropóloga e pesquisadora do Programa de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas da Universidade de São Paulo (USP)

sábado, 12 de julho de 2014

Franklin Roosevelt, Churchill, Stálin: Os três grandes

                       Churchill, Roosevelt e Stálin                                      
Durante a Segunda Guerra Mundial, os líderes de Grã-Bretanha, Estados Unidos e Unão Soviética tiveram nas mãos o destino de milhões de pessoas. Aliados contra a Alemanha nazista, esses homens de origens tão distintas se encontraram em Teerã (1943), Ialta e Potsdam (1945) para redesenhar as fronteiras de uma nova Europa. O mundo nunca mais seria o mesmopoucas vezes na história três estadistas de origem tão diversa e passado político tão distinto estiveram reunidos para decidir sobre o destino de tanta gente.

Somente uma guerra sem precedentes poderia unir aqueles três homens, que representavam coisas tão contrárias, ao redor de uma mesma mesa de negociações. Pelos Estados Unidos, lá estava Franklin Roosevelt, com 61 anos, filho predileto de um clã político poderoso que havia mais de meio século mantinha estreitos vínculos com o poder (seu tio Theodore Roosevelt também fora presidente). Em nome do Império Britânico, o primeiro-ministro Winston Churchill, 69 anos, orgulhoso de seus antepassados aristocráticos, entre eles Lord Malborough, célebre capitão-de-armas do século 18. Na outra ponta, o general Joseph Stálin, líder soviético, 64 anos,filho de um sapateiro da Geórgia.

Roosevelt era um entusiasta da democracia e do capitalismo, Churchill sentia-se a própria personificação dos interesses universais do Império Britânico, enquanto o todo-poderoso Stálin era o arauto da revolução proletária e da luta anticolonialista, subversões que vinham abalando o mundo desde 1917. Um deles, o inglês, lutava para manter um império, enquanto os outros dois lançavam-se para ampliar seus próprios domínios.

Teerã, dezembro de 1943

Stálin, ao longo de 1943, protelou o quanto pôde o encontro com Roosevelt e Churchill, pois temia que os japoneses, então em acirrada luta contra os EUA e a Grã-Bretanha, mas que não estavam em guerra contra a União Soviética, vissem a reunião como um ato hostil. Tudo que Stálin não queria era ter de se preocupar com uma frente de batalha no Pacífico. Ao esticar ao máximo a data do encontro, finalmente marcado para o fim de novembro de 1943, Stálin acabou beneficiado pelos acontecimentos.

Ao contrário de Estados Unidos e Grã-Bretanha, que até então tinham no currículo da Segunda Guerra vitórias militares em frontes secundários, como o norte da África e a Sicília, os trunfos de Stálin eram de impor respeito. O resultado da invasão alemã na União Soviética, iniciada em junho de 1941, havia sido muito diferente da guerra relâmpago travada contra poloneses, holandeses e franceses. As enormes distâncias da Rússia, a falta de estradas para um exército mecanizado e a resistência intensa e desesperada dos soldados soviéticos contribuíram para que os invasores não conseguissem conquistar nem Moscou nem Leningrado, a ex-capital que foi sitiada por 900 dias. O ponto culminante da resistência aconteceu na batalha de Stalingrado, travada entre 19 de agosto de 1942 e 2 de fevereiro de 1943, quando 100 mil alemães esfomeados e quase mortos de frio renderam-se ao general Zhukov. O mundo inteiro sentiu que o destino da guerra na Europa seria outro a partir daquele momento: Hitler não venceria.
A Alemanha não se recuperou das perdas que sofreu – meio milhão de homens e um número incalculável de equipamento bélico.

A esse triunfo espetacular, o Exército Vermelho acrescentou outro, a vitória em Kursk, na Ucrânia, em agosto de 1943. Na batalha, tida como o maior duelo de tanques travado em toda a história, os soviéticos provaram que podiam derrotar os alemães em pleno verão. Assim, Stálin tornara-se o personagem principal daquele primeiro encontro. Foi ele quem escolheu Teerã, alegando que não podia afastar-se muito do front. E a pergunta no ar era até onde Stálin iria após expulsar os nazistas e seus aliados do solo soviético.

A primeira preocupação de Churchill, naquela manhã fria, era descobrir os planos soviéticos para a Polônia, rota natural para alcançar Berlim e destruir o regime de Hitler. O premier queria uma Polônia livre, mas Stálin deixou claro que não permitiria a instalação de um regime hostil ao comunismo e que pretendia manter o controle sobre o leste do país, oferecendo em troca parte dos territórios que fossem tomados da Alemanha para acomodar os poloneses refugiados. Churchill não estava em posição de discordar e Roosevelt parecia mais preocupado em deter a sanha imperial do inglês, do que com o destino dos poloneses.

Roosevelt propôs – e os outros dois aceitaram – a tese da “rendição incondicional”, isto é, os alemães teriam que depor as armas sem nada exigir. Os aliados não aceitariam acordos. Stálin reclamou que lutava sozinho uma guerra pelo destino de todos e conseguiu dos dois outros líderes o compromisso de abrir um segundo front em maio do ano seguinte. A promessa era música para os ouvidos de Stálin, mas não seria cumprida.

Ficou combinado que os “Três Grandes”, como passaram a ser chamados pela imprensa, forneceriam armas à guerrilha iugoslava que resistia nos Bálcãs ao cerco de 200 mil soldados alemães. Antes da despedida, Churchill presenteou Stálin com uma espada cravejada de jóias, homenagem à vitória em Stalingrado.

Ialta, fevereiro de 1945

A península da Criméia, situada no mar Negro, ligada à Ucrânia pelo istmo de Perekop, é um pedaço de terra que poucas vezes esteve em paz. Várias vezes invadida e conquistada, permaneceu durante séculos território dos tártaros até que os russos os derrotaram, em 1783.
Entre junho e julho de 1942, a cidade de Sebastopol fora submetida a um implacável sítio quando mais de 560 mil obuses desabaram sobre ela. Consideravam-na “a maior fortaleza do mundo” até que as resistências do general Petrov cederam e Sebastopol rendeu-se aos alemães. A região só fora reconquistada pelos russos no verão de 1944. Quando, depois de uma cansativa viagem, Churchill desceu do avião no aeroporto de Sebastopol, base aeronaval soviética na Criméia, em fevereiro de 1945, viu-se cercado por ruínas. A pobre península parecia um queijo suíço de tão esburacada.

O premier britânico odiou o trajeto percorrido de automóvel até Ialta, local da segunda cúpula dos Três Grandes, realizada entre os dias 7 e 11 de fevereiro de 1945. Tratava-se de uma antiga estação de veraneio da família do czar, situada bem no sul da península da Criméia. Ali, em meio a uma paisagem deslumbrante, ao silêncio e ao clima ameno, Roosevelt, Churchill e Stálin decidiriam o destino de nações e de centenas de povos. Os três estadistas controlavam um território descomunal. Incluindo o domínio da Grã-Bretanha sobre as suas 51 colônias espalhadas pelos mundo, somadas ao território americano e ao soviético, os três exerciam sua soberania sobre mais de 55 milhões de quilômetros quadrados, habitados por um terço da população da Terra. Formavam um clube fechado no qual somente entravam, como exigia Stálin, “quem tivesse mais de 5 milhões de soldados”.

Até aquela altura tudo parecia andar bem para os Três Grandes. As vitórias soviéticas ao longo de 1944 tinham sido impressionantes. Uma enorme linha de frente, com mais de 2 700 quilômetros de extensão, partia das águas geladas do mar Branco, no norte da URSS, estendendo-se até as estepes quentes do sul da Ucrânia. Como um implacável rolo compressor de tanques, aviões, canhões e tropas de infantaria, os russos haviam empurrado e parcialmente destruído quase todas as divisões alemãs, italianas, croatas, romenas e húngaras, colocando-as em debandada para fora do território soviético.

Na frente ocidental, após a bem-sucedida operação de desembarque aliado na Normandia no Dia D, em 6 de junho de 1944, quando a Muralha do Atlântico de Hitler foi violada, tudo corria bem. Os nazistas cederam à articulação de milhares de bocas de canhões dos 1 200 navios de guerra das Marinhas americana e britânica, com as esquadrilhas de bombardeios com 3 500 aviões. Em seguida deu-se o assalto às praias da Normandia, tomadas por 90 mil combatentes. E aquela era apenas a vanguarda dos 2 milhões de soldados, das mais diversas nacionalidades, que chegariam ao continente europeu nos meses seguintes. As forças nazistas estavam sendo esganadas, na expressão de Churchill, por “um cinturão de ferro e aço”. A vitória era questão de tempo.

As notícias do front faziam a conferência em Ialta parecer uma mistura de comemoração com leitura de testamento. As reuniões foram estabelecidas num horário que agradou Churchill: às 5 horas da tarde. O premier detestava acordar cedo e costumava despachar do leito, onde ficava até o meio-dia. Roosevelt também parecia feliz, lisonjeado por ter sido apontado por Stálin como árbitro entre os dois superpoderes europeus, o Império Britânico e a União Soviética.

A principal proposta em discussão era a idéia de Churchill de estabelecer uma política de zonas de influência sobre as áreas liberadas ou a serem liberadas. Por um acordo prévio com Moscou, de outubro de 1944, os britânicos ficariam com a Grécia e metade da Iugoslávia, enquanto Stálin teria domínio quase integral sobre Hungria, Romênia e Bulgária. A questão mais polêmica era a da Polônia. Churchill alegou que a Grã-Bretanha fora à guerra em 1939 para defender a soberania polonesa e não poderia aceitar que aquele país, em véspera de ser ocupado pelo Exército Vermelho, ficasse na órbita soviética.

Stálin retrucou que não se tratava de uma questão de honra, mas sim de segurança. Milhões de russos morreram durante a invasão alemã e grande parte graças a um ataque surpresa que partira do território polonês. Além disso, alegou que britânicos e americanos, quando ocuparam a Itália, não o chamaram para discutir como seria o regime pós-fascista. Stálin não cederia e, de fato, anunciou que já havia criado o Comitê Nacional de Lublin, formado por exilados poloneses refugiados em Moscou, que assumiriam o controle do país. O máximo que Churchill conseguiu foi um compromisso de Stálin para realizar eleições livres na Polônia, assim que a Alemanha fosse derrotada. Também eram polêmicas as questões de limites entre Iugoslávia, Itália, Bulgária e Áustria e da necessidade de a Turquia participar da etapa final do conflito. Stálin apresentou suas exigências no Extremo Oriente.

Para lutar contra o Japão, queria em contrapartida que os “direitos russos” na região (Mongólia e ilhas Sakalinas e Kurilas, perdidas na guerra russo-nipônica de 1904) fossem restaurados e ampliados.
Churchill desistira de cobrar de Roosevelt uma intervenção conjunta nos territórios libertados. Depois de um encontro em outubro, convencera-se de que os americanos preferiam ver os soviéticos controlando os territórios que libertassem do que manter suas tropas na Europa. Roosevelt acreditava na coexistência pacífica com a URSS e disse a Churchill em Ialta que não pretendia acampar no continente muito além de dois anos.

A ocupação conjunta só foi consenso em relação à Alemanha. O país seria dividido em quatro – além dos Três Grandes, a França também controlaria uma parte. Stálin propôs que os alemães indenizassem todos os países atacados desde 1939: usinas, equipamentos industriais, máquinas, navios, tudo seria repartido e 50% ficaria com URSS. Os alemães teriam seus investimentos no estrangeiro expropriados e entregariam as colheitas e permitiriam o uso de sua força de trabalho para reparar os estragos.

Mais radical foi a proposta de Henry Morgenthau, o secretário do Tesouro americano, que defendia a “pastorilização” da Alemanha, isto é, fazê-la voltar à Idade Média, com a remoção completa do parque industrial. Para Roosevelt, a dieta dos alemães deveria ser “sopa de manhã, sopa no almoço e sopa na janta"”. O país seria dirigido por um Conselho de Controle e os criminosos de guerra, julgados num tribunal especial.

Potsdam, julho de 1945
Nos anos seguintes, tornaram-se comuns as críticas à postura de Roosevelt em Ialta. Políticos conservadores o acusaram de ter entregue o Leste Europeu aos soviéticos, acusação de certo modo endossada por Churchill. Roosevelt, no entanto, não pôde se explicar: ele morreu em 12 de abril de 1945, três meses depois.

O fato é que ninguém entregou nada a Stálin. Foi o Exército Vermelho que, na perseguição aos nazistas, levou tudo de roldão. Em 27 de fevereiro de 1945, tropas soviéticas invadiram a Romênia e instituíram um governo pró-comunista. No dia 2 de maio, quando Berlim foi capturada, Bulgária, Polônia, Hungria e Checoslováquia já estavam sob controle de governos alinhados com Moscou.

Na grande política tudo é simbólico. Se Stálin, anteriormente, marcara a cúpula dos Três Grandes para Ialta, local onde o czar passava as férias, de certo modo queria que seus aliados o vissem como o herdeiro legítimo do Império Russo e não um bandoleiro caucasiano, como muitas vezes fora apresentado pela imprensa ocidental. Por isso, quando foi encerrada a guerra contra Hitler e procurou-se um lugar para o reencontro dos vencedores, a escolha recaiu sobre Potsdam. Distante cerca de 20 quilômetros de Berlim, era a morada dos antigos reis prussianos, algo como uma Versalhes na província de Brandemburgo, no coração da antiga Prússia.

Havia sido o refúgio preferido de Frederico, o Grande, que lá construíra o belíssimo palácio de Sans Souci, marco do esplendor de seu reinado. Para os três estadistas que lá se reuniram no verão de 1945, Winston Churchill, Joseph Stálin e Harry Truman (antigo vice-presidente de Roosevelt), melhor escolha não havia para sepultar para sempre a ameaça belicista alemã. Os vitoriosos reuniram-se sobre a tumba dos antigos soberanos da Alemanha derrotada.

Apesar da desolação em que Berlim se achava, Potsdam ainda mantinha a maioria dos seus prédios históricos – saqueados, mas em pé. O discreto mas amplo palácio de Cecilienhof, terminado em 1917, serviu para acolher, a partir de 17 de julho de 1945, os Três Grandes e suas numerosas equipes diplomáticas.

Coube a Harry Truman capitanear as reuniões. Ex-dono de camisaria de Kansas City que chegara à Casa Branca por esses acasos da política, Truman nunca havia sido intimado nos assuntos de governo por Roosevelt, que o considerava insignificante. Assim, era visível seu embaraço diante daquela situação nova. Porém, apesar de matuto e inexperiente, ele era um político de sorte. Um dia antes da reunião, recebeu a notícia do sucesso da explosão da primeira bomba atômica, no deserto do Novo México. Para alguns historiadores, a Guerra Fria começou ali, pois os EUA, com tal poder de destruição, não viam mais motivos para dividir com os soviéticos o controle do mundo no pós-guerra.

Churchill, por sua vez, líder do Partido Conservador, foi surpreendido pela derrota eleitoral frente aos trabalhistas em 26 de julho, o que implicou sua imediata substituição do cargo de primeiro-ministro. Sua presença na cúpula foi apenas como enviado do governo.
Em Potsdam, os Três Grandes afirmaram a sentença final da Alemanha nazista. O país seria ocupado pelos aliados e administrado pelos comandantes militares das quatro zonas (americana, britânica, francesa e soviética), que supervisionariam a remoção da indústria e do material bélicos. Cada aliado extrairia as reparações das respectivas zonas – Stálin, como conquistara a Alemanha Oriental, basicamente agrária, exigiu participação no espólio ocidental – e a população alemã seria deslocada dos territórios orientais, entregues aos poloneses.

Técnicos e diplomatas definiram as fronteiras da Europa Central e dos Bálcãs, embora não houvesse representantes desses países na conferência. A declaração final era um ultimato aos japoneses. Ou o imperador Hiroito rendia-se incondicionalmente, ou o Japão seria destruído.

A reunião de Potsdam foi mais longa do que as outras. A situação de paz na Europa permitiu que os Três Grandes pudessem detalhar com mais precisão as decisões. Afinal, tiveram 16 dias para isso, só voltando para casa a partir de 2 de agosto. Ninguém soube dizer se a expressão inalterada de Stálin, quando Truman falou-lhe da bomba atômica, deveu-se a ele já saber do artefato nuclear ou se não se deu conta da potencialidade daquilo. Seja como for, a posse daquela terrível arma deu a Truman, um homem apagado, o degrau necessário para fazer dele um gigante, pronto para enfrentar os soviéticos em escala planetária.

Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/