O arquivo de Médici, um segredo bem guardado que vem agora à tona, traz documentos surpreendentes e inéditos do regime militar e dos seus personagens
Uma década após deixar o poder, um amargurado Emílio Garrastazu Médici disse ao repórter A.C. Scartezini, que insistentemente tentava entrevistá-lo: “Eu sou o arbítrio, sou a ditadura. A ditadura não fala”. Médici morreu sem dar um depoimento sobre os cinco anos em que governou o Brasil, entre 1969 e 1974 — um tempo em que o país testemunhou, de um lado, crescimento econômico acelerado, entre 9% e 14% ao ano, e, de outro, o período mais sombrio da ditadura militar. O ex-presidente, contudo, reservou uma surpresa aos que o imaginavam um governante sem apreço pela preservação de pedaços significativos da história do Brasil. Médici guardou um arquivo que soma 32 caixas de manuscritos, num total de 700 documentos. Há também oitenta álbuns com recortes de jornais e mais 300 fotos avulsas. É maior, por exemplo, do que os acervos deixados por Eurico Dutra, Costa e Silva e João Goulart.
Esse material está guardado desde 2004 em várias gavetas de metal no 11º andar da sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), no Rio de Janeiro. Foi doado naquele mesmo ano por Roberto, o filho mais novo de Médici, um ano após a morte de Scylla, sua mãe e mulher do ex-presidente. Cerca de 80% dos documentos dizem respeito aos cinco anos de Médici na Presidência, uns 15% ao período anterior à sua posse e o restante aos tempos longe do poder. A partir da semana que vem, o acervo poderá ser conhecido duplamente. Seja por pesquisadores a quem o IHGB vai abri-lo, seja nas 31 páginas dedicadas a um extrato dele no livro Brasiliana IHGB.
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